Graça Rojão
Diretora Executiva da CooLabora
As preocupações em torno do despovoamento dos territórios de baixa densidade parecem reunir consensos alargados. Aliás, a expressão “baixa densidade” veio aliviar a carga simbólica negativa que a palavra “Interior” comporta.
Ouvimos narrativas sobre a nossa região frequentemente enformadas por uma visão carencialista, associada a uma perspctiva de atraso (não se sabendo com exactidão qual é a métrica tomada por referência) ou, ao invés, narrativas romantizadas que idealizam a vida em pequenas cidades como a nossa, palco de ritmos tranquilos, laços comunitários fortes e paisagens supostamente intactas. Outras narrativas acentuam a ideia de cidade universitária, centro do saber, a que não é alheia toda a animação económica associada à presença flutuante de jovens.
Porém, assistimos há décadas ao esvaziamento populacional do concelho, o que é especialmente vincado nas zonas mais rurais. O debate em torno do futuro que queremos para a Covilhã, tal como para as regiões de baixa densidade, é indissociável do futuro que desejamos para este estreito país, que não conseguiu travar um processo de litoralização absurdo.
Quando os territórios cedem aos “futuros da moda” e correm apressadamente atrás de propostas que resultam da fábrica de solução-milagre contra a interioridade, que envolvem em reluzentes embrulhos de turismo salvífico, shoppings em catadupa, hospitais privados com fartura, entre muitos outros exemplos, assinam a capitulação face a lógicas neoliberais que defendem o seu lucro privado, quase sempre à custa do bem colectivo.
A perda do direito ao lugar num concelho como o nosso tem-se traduzido na expulsão de pessoas por falta de alternativas de emprego, de realização profissional, de habitação, de serviços públicos, etc. Sabemos hoje como as estratégias ancoradas na valorização de uma economia de base mais local, na acessibilidade a serviços de interesse geral e na participação democrática conseguem assegurar o direito ao lugar, porque animam socioeconomicamente os territórios.
Num tempo em que é preciso escapar à linha de montagem mercantilizadora da vida, importa também alimentar a inquietação colectiva e a resistência para que um pensamento crítico plural contribua para alargar horizontes.