FOTO: Gonçalo Poço
“Lamento profundamente”. É assim que o presidente da Câmara da Covilhã, Hélio Fazendeiro, reage à verba que foi contemplada, no ano 2026, no Orçamento de Estado, para o Plano de Revitalização da Serra da Estrela. Ou melhor, a que não foi colocada, já que o documento não prevê verba alguma, depois de, em 2025, estarem previstos apenas 1,5 milhões de euros para um plano que, inicialmente, previa 155 milhões de euros para fazer face ao grande incêndio de 2022 e aos prejuízos decorrentes não só do fogo, como das enxurradas verificadas em setembro desse ano.
O autarca covilhanense mostra o seu “profundo desapontamento” com a “desorçamentação” existente, uma vez que a proposta do PS para o Governo retomar o Plano foi chumbada com os votos contra do PSD e CDS e a abstenção do Chega. “Sinto profundo desapontamento. Eu não posso dizer que é subfinanciamento, porque a verdade é que o financiamento é zero no Orçamento. Em 2025, podíamos falar de um subfinanciamento, na medida em que havia apenas 1,5 milhões de euros para o Plano de Revitalização previsto inicialmente com 155 milhões de euros, mas a verdade é que para 2026 não há uma suborçamentação, há uma desorçamentação completa. São zero euros e eu lamento profundamente”, disse no final da reunião privada da Câmara da Covilhã, na passada sexta-feira, 5.
Hélio Fazendeiro recorda que o plano foi elaborado pelo Governo de então (PS) depois de ouvir as gentes do território, desde autarcas, associações, empresários e grupos informais ligados à região, e que o mesmo tinha as medidas que o território considerava “determinantes” para fazer face à regeneração ambiental, após o grande incêndio que assolou a Serra da Estrela em agosto de 2022. O presidente da Câmara lembra que, no caso concreto da Covilhã, constavam obras como a nova barragem das Cortes, com cerca de 30 milhões de euros, a estrada de ligação entre Verdelhos (uma das freguesias covilhanenses mais afetada pelo fogo de 2022) e o Poço do Inferno (Manteigas), que tinha contemplado cerca de um milhão de euros, ou o próprio IC6, de ligação a Coimbra.
O edil covilhanense espera que ainda “possa existir” do Governo sensibilidade para a recuperação do território “depois da catástrofe que nos assolou em 2022”, mas salienta que já este último verão, os incêndios tiveram um impacto ainda mais profundo no concelho, até com uma área ardia superior à de três anos atrás. “Espero que seja possível a Covilhã, e os territórios ardidos neste grande incêndio de agosto, que foi em termos de dimensão territorial muito superior até aos incêndios de 2022. Nesse ano, no total, arderam 27 mil hectares. Só na Covilhã, no incêndio de agosto deste ano, arderam 20 mil hectares, o que dá para perceber a escala e a dimensão daquilo que ocorreu este ano”, lembrou Hélio Fazendeiro, esperando que ainda seja “possível obter o apoio do Governo para a rearborização e para a reflorestação do território que agora ardeu”, vincando que a Câmara já tem no terreno as medidas de emergência pós-incêndio.

O autarca reclama também medidas de emergência para fazer face aos prejuízos provocados pela tempestade Cláudia, que afetou em larga escala as zonas ardidas em agosto “Espero ter apoio do Governo para fazer face aos prejuízos que a tempestade provocou, naquele período de intempéries que nós tivemos e que foi particularmente violento nos territórios ardidos. Temos prejuízos que ainda estamos a contabilizar, mas que foram muito violentos naquilo que foram as encostas, as aldeias, as margens dos cursos de água”, salienta. “Gostava que o Governo olhasse também para esses territórios e pudesse ajudar e pudesse ter aqui um fundo de emergência que nos permitisse fazer face a estes prejuízos que acabam, no fundo, por ser também consequência do incêndio de agosto”.
Recorde-se que depois de há um ano ter colocado uma verba de 1,5 milhões de euros no Orçamento do Estado (OE) de 2025 (que acabou por não ser executada por falta de enquadramento da tutela) — originando inúmeras críticas dos autarcas da região —, o Governo da AD, liderado por Luís Montenegro, decidiu, agora, acabar de vez com o Plano de Revitalização da Serra da Estrela, não alocando qualquer valor para 2026. A decisão levou o deputado covilhanense Nuno Fazenda (PS), eleito pelo círculo de Castelo Branco, a tecer fortes críticas na Assembleia da República na semana passada, durante a votação do OE. “A coesão territorial tem de ser uma prioridade política nacional. Este OE traduz exatamente o contrário. O Interior é totalmente desvalorizado e o Governo esquece projetos importantes. Passou mais de um ano e meio e o Plano de Revitalização da Serra da Estrela está na gaveta, não tendo neste OE uma única referência” disse o deputado.
CIM Beiras e Serra da Estrela “tem de ser o motor da região”

O novo presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região Beiras e Serra da Estrela, Carlos Condesso (autarca de Figueira de Castelo Rodrigo), considera que esta entidade “tem de ser o moro da região” e uma verdadeira “locomotiva da cooperação intermunicipal”. O autarca social-democrata, 51 anos, foi eleito por unanimidade, no final do mês de novembro, na Guarda, como presidente desta entidade que representa 15 municípios da região e adianta à Lusa que pretende ter uma CIM com “outra imagem”, mais aberta à sociedade, às empresas e às instituições de ensino, mas que seja também “exemplo de modernidade, inovação e desenvolvimento”.
Carlos Condesso tem, entre outras prioridades, a vontade de acabar com “a imagem de que nada acontece nas Beiras e Serra da Estrela, que veio do passado” e realça o facto de haver agora novos autarcas no território (oito novos presidentes de câmara), com uma nova visão, “garra, querer e determinação, que querem fazer avançar a região, arregaçando as mangas, inovar, mover esta região cheia de potencialidades e de gente que tem valor e faz acontecer”.
Aumentar a coesão intermunicipal, promover o desenvolvimento económico, resolver os problemas de mobilidade regional, incentivar o empreendedorismo e aproveitar “ao máximo” os fundos comunitários, são outras prioridades para os próximos quatro anos. O reforço da cooperação transfronteiriça com a região espanhola de Castela e Leão, um mercado com “enormes potencialidades” para as Beiras e Serra da Estrela, é outro dos objetivos, bem como a promoção das Aldeias Históricas, Aldeias do Xisto, Aldeias de Montanha, turismo termal, enoturismo ou turismo da natureza, que considera “luxos do século XXI”.
Carlos Condesso terá como vice-presidentes o presidente da Câmara de Manteigas, Flávio Massano (independente), e Luciano Ribeiro, presidente da Câmara de Seia (PS), também eles eleitos por unanimidade. O sucessor de Luís Tadeu, ex-autarca de Gouveia, enaltece o ato de escolha de representantes dos municípios na CIM, considerando que foi um exemplo de união, uma vez que se deixaram “os partidos de parte” e se deu prioridade, “acima de tudo”, ao território.
A CIM Região Beiras e Serra da Estrela, com sede na Guarda, é constituída por 15 municípios, sendo 12 do distrito da Guarda (Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Guarda, Gouveia, Manteigas, Meda, Pinhel, Seia, Sabugal e Trancoso) e três do distrito de Castelo Branco (Belmonte, Covilhã e Fundão).


