Durante o ano de celebração dos 50 anos do 25 de Abril, que o presidente do município salienta querer que sejam “de todos e para todos”, estão previstas dezenas de iniciativas e, em 20 de outubro, é inaugurada uma escultura, no Pelourinho, de homenagem “aos covilhanenses que lutaram pela liberdade”.

O anúncio foi feito pela presidente da Comissão das Comemorações, Elisa Calado Pinheiro, na tarde do último sábado, data em que se cumpriram os 50 anos do Golpe das Caldas, durante a apresentação do programa que se entende entre abril deste ano a abril de 2025, uma cerimónia que decorreu no Salão Nobre da Câmara da Covilhã.

O monumento era uma reivindicação de há muito dos resistentes antifascistas e Elisa Pinheiro acentuou que, além da peça escultórica, da autoria de um artista covilhanense, que pretende perpetuar “todos os que lutaram, resistiram e sofreram pela liberdade”, será também feita uma edição com a explicação da escultura.

Antes, na noite de 24 para 25 de abril, na Praça do Município, durante um espetáculo onde artistas locais vão cantar e recitar poemas associados à efeméride, serão projetados os nomes de que há registo dos 510 presos políticos no concelho da Covilhã, a que se segue um concerto com a banda popular Sons do Minho.

Elisa Pinheiro destacou a importância dada à participação cívica da população, especialmente das crianças e jovens em idade escolar, para que valorizem o que a Revolução dos Cravos ofereceu à sociedade.

“Importa que, por não terem vivenciado o 25 de Abril, possam vir a conhecê-lo de viva voz, através de alguns dos protagonistas locais da nossa história. É esta, talvez, a melhor forma de passarem a valorizar o preço da liberdade de que usufruem hoje e o nível de desenvolvimento aos mais diversos níveis”, sublinhou Elisa Pinheiro, à frente de um grupo que integra 18 pessoas.

Depois de agradecer aos que “abriram caminho para a liberdade”, como foram os casos de José António Pinho e Pinheiro da Fonseca, presentes na sala, por se terem atrevido “a desafiar o silêncio e a rasgar mordaças”, o presidente da autarquia, Vítor Pereira, destacou a importância de a data servir para reforçar os valores da democracia e para recordar as histórias do período de ditadura, para que “nunca se repitam”.

O presidente vincou a importância de os valores de Abril não serem esquecidos ou desvalorizados.

“Não podemos deixar que a incerteza ou o descontentamento nos volte a conduzir a tempos sombrios, escuros, sem esperança”, reforçou Vítor Pereira, acrescentando que “celebrar Abril não é um dever ou obrigação, é uma forma de luta”.

Segundo o autarca, o programa é “ambicioso”, a Comissão composta por personalidades “de diferentes quadrantes e sensibilidades” e pretende-se integrar as associações, entidades e freguesias do concelho.

O programa inclui eventos literários, exposições, espetáculos, ações educativas e de cidadania, tertúlias mensais, concertos, oficinas de música criativa, um ciclo de cinema, arte pública, um concurso de leitura, arruadas, um tributo aos autarcas do concelho, em 23 de outubro, e a realização de debates, como o que em setembro vai discutir o papel do Serviço Nacional de Saúde como pilar da democracia.

Elisa Calado destacou a pretensão de as comemorações servirem para questionar e ajudar a pensar o futuro, sem se centrar apenas no passado.

“Quando as evocações se circunscrevem a glorificar o passado, impedem que o presente se transforme em futuro”, enfatizou a presidente da Comissão, segundo a qual a data deve servir para “constituir ensejos, estudar problemas, meditar diretrizes, criticar certezas dogmáticas”.

O município vai divulgar a agenda com as iniciativas mensais e, em abril, além do que está previsto para a noite de dia 24, são inauguradas dia 25 a instalação artística “Cravos de Abril” e a exposição documental “A Covilhã de Abril de 74”. Dia 27 há um concerto com Cristina Branco no Teatro Municipal da Covilhã, com a fadista a cantar músicas de Zeca Afonso.

À sessão seguiu-se uma conferência com o ex-ministro da Cultura João Soares, que destacou a “terra de tradições antifascistas”, o escritor José Manuel Saraiva e o militar Carlos matos Gomes, antigo elemento do Movimento das Forças Armadas.

José António Pinho pediu a palavra para alertar para “a gravidade da situação em que nos encontramos” e pediu a “união dos democratas”.