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Wool +: a festa da arte e da inclusão

O mais antigo festival de arte urbana do país promove, no sábado e domingo, um conjunto de iniciativas e apresenta ferramentas para tornar quatro murais mais acessíveis a pessoas com vários tipo de deficiência

Integração é a palavra-chave do Wool +, iniciativa que, entre outras atividades previstas para este fim de semana, dias 20 e 21, contempla a inauguração de um painel de azulejos que resulta de um conjunto de encontros, ao longo de meses, entre pessoas com deficiência e alunos, orientados pelo artista Manstraste.

Enquanto o puzzle do painél de 1200 azulejos está a ser montado na Rua Rui Faleiro, passa a carrinha da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) da Covilhã e apita. É um gesto que se repete. Lá dentro, vão alguns dos autores da peça, que durante dez sessões trabalharam em colaboração com alunos da Escola Campos Melo numa parceria promovida pelo mais antigo festival de arte urbana do país, agora com uma edição paralela que visa tornar a arte exposta mais acessível e inclusiva.

Em tons azul e amarelo, a parede, junto à Águas da Covilhã, vai ganhando forma, para o resultado da residência artística comunitária ser inaugurado na tarde de sábado, às 15:30. No topo do painel, localizado nas proximidades da sede da APPACDM, onde os utentes passam diariamente, e na via que dá acesso à Serra da Estrela, está escrito “Subimos Juntos”.

“Foi uma atividade, pela participação conjunta, que podemos chamar verdadeiramente inclusiva”, considera o presidente da APPACDM, António Marques, que elogia o “desafio totalmente diferente” das oficinas que habitualmente fazem, que deixou quem frequenta a instituição muito entusiasmado, num projeto em que se empenharam e que tem a particularidade de ficar exposto na via pública, num local onde passam habitualmente.

Elisabet Carceller, uma das fundadoras do Wool, desce o andaime, onde vai organizando a ordem dos azulejos, para explicar que Mantraste se limitou a coordenar os encontros e que as partes em amarelo foram pintadas pelos alunos, enquanto os desenhos, a azul, foram da autoria, livre, do grupo da APPACDM.

“Retrataram-se a eles próprios, uns aos outros, temos figuras humanas que estão a apontar para a serra, temos ovelhas, plantas, árvores, casas, autocarros, há um pouco de tudo e fala um bocado deste caminho percorrido”, comenta a responsável.

Segundo Elisabet Carceller, trabalhar com pessoas com incapacidades permitiu perceber que “são capazes de muito mais do que por vezes as oportunidades que têm”. Uma opinião partilhada por Monstraste, que enalteceu a “dinâmica de trabalho muito boa criada” e “a magia de um trabalho autêntico, sem barreiras, feito por quem está a desenhar o que lhe apetece, sem se preocupar se ou outros vão gostar”.

“Esta atividade não era para entreter, mas para envolver. Eles incluíram-nos e nós a eles. A minha tarefa foi só tentar perceber o potencial de cada um e empurrá-los para o que achava que ia resultar. Perceber as mais-valias de cada um”, sublinha o artista.

Murais para cegos verem e surdos ouvirem

Mas o Wool + é um conjunto de iniciativas, com a especial preocupação em disponibilizar recursos de acessibilidade em quatro murais da cidade, para permitir que pessoas cegas ou surdas possam usufruir deles, um projeto-piloto com a ambição de chegar a mais paredes.

Três dos painéis terão réplicas táteis com a descrição em braile e quatro terão disponível audiodescrição para acompanhar a leitura, e um vídeo com intérprete de língua gestual portuguesa, tal como texto em comunicação alternativa e aumentativa.

A organização apresenta o projeto como “uma ação pioneira em Portugal”, que tem como objetivo “demonstrar que é possível, desejável e necessário, criar camadas de informação e de experimentação, de forma a envolver mais pessoas, retirando barreiras”.

A ideia é tornar mais acessível a arte de rua, com a inclusão de meios que facilitam o acesso à arte de pessoas com deficiência física ou intelectual.

Ainda no sábado, além de uma visita guiada orientada e acompanhada por uma intérprete de língua gestual portuguesa, e de uma roda de conversa sobre “Como garantir a participação cultural de pessoas com deficiência surdas?”, é apresentada, no Teatro Municipal da Covilhã, às 21:30, a peça de teatro “O Tamanho das coisas”, com o ator Paulo Azevedo, que nasceu sem braços e sem pernas.

No domingo o programa prevê uma visita guiada com audiodescrição detalhada dos murais e uma narração que permite saber informações como a cor, dimensões, composição ou posicionamento de objetos, formas ou figuras das pinturas.

Às 18:00, no Teatro Municipal da Covilhã, atuam os 5.ª Punkada, banda que integra elementos com deficiência intelectual e paralisia cerebral.

Para os responsáveis do Wool +, estes dois dias “assumem-se como palco de mostra e exaltação das capacidades artísticas e criativas das pessoas com deficiência, intelectual e/ou física, surdas ou outras necessidades específicas”.

A escolha desta data, próxima das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, procura promover e ser exercício de um direito inscrito na Constituição de República Portuguesa, que confere a todos os cidadãos, sem exceção, o fundamental direito à cultura, ao acesso à fruição e criação cultural, a uma real e plena democracia, também cultural, realça a organização.

 

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